A preocupação com o dinheiro faz da vida, afinal, precisamos desse recurso para praticamente tudo o que fazemos no cotidiano, seja para nos locomover, alimentar, vestir, ter um local para morar ou se divertir. A questão é quando essa preocupação se torna tão exacerbada que nos impede de lidar com a realidade de uma maneira equilibrada.

Isso acontece, em geral, quando temos dívidasou compromissos financeiros que não conseguimos arcar, na ausência de uma reserva que nos dê tranquilidade em situações inesperadasou quando não conseguimos acumular dinheiro para realizar nossos projetos de vida, como a compra da casa própria.Nessas situações, muitas vezes, as pessoas sequer conseguem olhar as contas ou pensar em dinheiro sem ter palpitações. Esse sentimento tem um nome: ansiedade financeira.

Segundo a pesquisa Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro 2022,da Serasa, 78% das pessoas endividadas vivem surtos de pensamentos negativos devido aos débitos vencidos e 61% têm ou já tiveram crises de ansiedade ao pensar nas dívidas. Metade dos entrevistados para a pesquisa afirmou, ainda, sentir muita tristeza e medo do futuro.

Se você está nessa situação ou conhece alguém que está passando por isso, continue a leitura e veja as dicas da psicóloga Marcelle Neves Xanthopoylos, aqui da Recovery, para lidar com a ansiedade financeira.

Afinal, o que é ansiedade financeira?

A ansiedade financeira é um quadro de preocupação extrema que, muitas vezes, impede as pessoas de tomarem as rédeas de sua vida financeira. “A ansiedade costuma estar relacionada à preocupação excessiva com o futuro. Em alguns casos, o medo é tão grande que a pessoa não consegue sair do lugar: não olha mais as contas, não consegue pensar em saídas e nem mesmo pedir ajuda”, explica Marcelle Neves Xanthopoylos. “Ela fica tão focada no problema que não se sente motivada a buscar uma solução”, completa.

Essa sensação pode agravar a situação financeira, levando a pessoa a se afundar cada vez mais nas dívidas.Além da desorganização financeira, a ansiedade pode impactar a saúde mental, afetando a qualidade do sono, a produtividade e o foco no trabalho, por exemplo.

Tenho ansiedade financeira. O que fazer?

Existem diversos graus de ansiedade financeira. Nos mais graves, Marcelle recomenda procurar apoio psicológico, lembrando que há profissionais que atendem com valor social, cobrando preços mais em conta para ajudar pessoas que não conseguem arcar com o custo de uma sessão de terapia. Além disso, há uma série de universidades e faculdades de psicologia que oferecem atendimento gratuito à população. Mas há também alguns bons hábitos que facilitam a concentração e a saída do imobilismo, dando um passo por vez para encarar o problema e mudar a realidade. Veja algumas dicas:

Respire fundo e comece a se organizar

Segundo a psicóloga, o primeiro desafio de quem sofre de ansiedade financeira é sair do mundo das ideias. “É preciso respirar e tentar tangibilizar o que está acontecendo”, afirma. E, para isso, fazer o orçamento pessoal ou familiaré o primeiro passo. Dá para fazer isso de um jeito simples. Pegue papel e lápis e anote:

Todas as suas fontes de renda, incluindo salário, benefício social, dinheiro que recebe de aluguel de alguma propriedade, renda extra.
Todos os gastos do mês: contas básicas da casa, gastos com alimentação, saúde, lazer e parcelas das dívidas, sem esquecer nada, nem mesmo os gastos pequenos e que parecem inofensivos.

“Esse exercício faz com que você crie um senso de realidade, ajudando tanto na organização financeira, quanto na psíquica. Lidando com a realidade, a gente acaba saindo um pouco das preocupações com o futuro”, diz Marcelle. Não sabe como fazer esse planejamento?Não tenha medo de pedir ajuda a algum amigo ou familiar que tenha mais facilidade ou, ainda, a procurar ajuda profissional de um psicólogo ou consultor financeiro.

Crie pequenas metas

Conseguir organizar o orçamento pessoal já é uma vitória! E, com ele, você pode começar a olhar onde o dinheiroestá sendo gasto, criando pequenas metas para começar a poupar e sair dessa situação. Se você notou que faz muitos gastos no cartão de crédito, que tal deixá-lo guardado em casa?

Ou, se tem muitas dívidas, liste-as e fale, um a um, com os credores para negociar. Você pode dar o primeiro passo consultando gratuitamente o seu CPFcom a gente. É possível, ainda, se desafiar a poupar um pouquinho por mês. O importante é estabelecer metas pequenas, realistas e possíveis de alcançar, evoluindo pouco a pouco.

Permita-se respirar

“As preocupações com o dinheiro podem parecer sufocantes, mas é importante lembrar que a pessoa é muito mais do que a dívida que ela tem”, ressalta a psicóloga da Recovery. “Busque momentos de descontração e atividades que ajudem você a relaxar. Pode ser uma caminhada no parque, se exercitar, ver o pôr do sol, um hobby, estar com os amigos, enfim, algo que traga satisfação”, exemplifica.

Fica a dica: as unidades do Sesc em todo o Brasil oferecem atividades gratuitas para a comunidade. Além disso, há uma série de organizações sociais que ensinam atividades manuais e realizam programas que estimulam a convivência. Faça uma busca na internet ou converse com vizinhos para descobrir.

Fique de olho, também, na programação das unidades básicas de saúde de seu município. Muitas delas realizam as chamadas práticas integrativas e complementares em saúde,que incluem dança circular, ioga, alongamento, caminhadas e outras atividades gratuitas.

Dicas para ajudar um amigo ou familiar com ansiedade financeira

Nem sempre é fácil reconhecer que alguém próximo pode sofrer de ansiedade financeira. Seja pela vergonha de falar sobre dinheiro ou pela paralisia que esse tipo de situação pode levar, muitas pessoas se fecham, não conseguindo encontrar forças para pedir ajuda. Por isso, é muito importante estar atento a possíveis sinais que indiquem que algo não está indo bem.

Falta de concentração, mudança de humor sem explicação aparente e até mesmo o isolamento são comportamentos muito comuns em quadros de ansiedade financeira. Se notar que alguém que você conhece está passando por isso, tome a iniciativa de começar uma conversa. “Fale sempre com muito cuidado e empatia e, em um primeiro momento, apenas ouça. Temos a tendência de sugerir fórmulas e soluções, mas é importante acolher e ouvir antes”, diz Marcelle.

Em um momento de crise, sente ao lado da pessoa e a ajude a recuperar o autocontrole. “Até mesmo exercícios de respiração simples podem fazer a diferença. Peça para a pessoa inspirar e expirar lentamente com você e se mostre presente”. Depois de entender o que se passa, você pode se oferecer para ajudar a pessoa a se reorganizar ou, ainda, ajudá-la a encontrar alguém que entende mais do assunto.

Se você sabe manejar uma planilha, por exemplo, pode se oferecer a ensinar como fazer um orçamento. Outra boa ideia pode ser buscar ferramentas que possam auxiliar na organização e entendimento do assunto, como o Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB),criado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e pelo Banco Central (BC). Ele permite medir como está a saúde financeira de qualquer pessoa, direcionando para conteúdos gratuitos de orientação e aprendizado sobre finanças pessoais.

Um cuidado importante, para quem está ao lado, é conhecer os seus próprios limites. “As pessoas tendem a ajudar quem está endividado emprestando dinheiro, o cartãopara compras ou contratando crédito em nome de terceiros, mas nem sempre esse é o melhor caminho”, alerta Marcelle. “Se a pessoa está desorganizada financeiramente, muito possivelmente ela não terá condições de pagar o empréstimo ou administrar o cartão de outra pessoa. Nesses casos, a sugestão é oferecer apoio para organizar as contas, falar com os credores, fazer um currículo ou preencher um perfil no Linkedin.”

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